Sobre não ligar tanto pra casa.
Resolvi desapegar aos poucos de casa. Quando entrei na sala de embarque vi que isso seria necessário, já havia passado por momentos parecidos, quando a cabeça da gente não sai da casa dos pais e precisamos viver fisicamente em outro lugar. Fiz isso com várias desculpas, como a difícil convivência com minha mãe, minha discordância com o sistema da minha casa e depois com a ideia de que tinha muitas coisas a fazer. Mas eu sei, bem lá no fundo da alma, que fiz isso porque a dor diminui. Fui realmente aprendendo a viver mais sozinha, choramingando por aqui, nesse blog mesmo ou apenas emburrando por dias inteiros. A gente cria um sistema de proteção, em que sentir saudades deve ter limites, ou te faz desistir de tudo. E quando percebo que realmente os pais não vivem para sempre, o medo aumenta, e fico ainda mais dura. Mas hoje, hoje eu percebi tudo isso e tive que vir aqui dizer.
Me peguei ouvindo "eu apenas queria que você soubesse", música que me lembra minha infância, e a riqueza que minha casa sempre foi, meus pais cantando no quintal, meu irmão já querendo aprender o violão e eu apenas brincava. Era rotina, e apesar de muita coisa que sinto que foi ruim na minha infância, certas coisas saltam na minha memória e eu não acredito que realmente vivi, aquelas cenas lindas em que meu pai era mesmo meu amigo e que minha mãe tampouco ligava pra qualquer luxo. Lembro de todos os quintais que tivemos. De todas as árvores que subi. E sou muito grata a todas elas, que me aguentaram nos momentos ótimos e tristes da vida (porque eu me resguardava em cima de árvores quando estava triste).
Eu quero muito voltar a escrever mais por aqui. Mudar o ar desse lugarzinho. Sei que aqui já foi um painel cheio de textos tristes, em épocas que minha família não me aceitava diante da minha orientação. Sei que já foi lotado de declarações de amor. Não que hoje não seja. Só é diferente de tudo hoje. Como diz Gonzaguinha, "eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta, que hoje eu me gosto muito mais porque me entendo muito mais também."
A saudade vai bem, obrigada. E eu também. A gente vai aprendendo a conviver com tudo isso. De tanto aprendizado, olha onde cheguei.
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