Noventa e nove dias. Como eu queria que o dia de hoje chegasse. Quantas vezes eu não entrei em desespero, sem querer contar exatamente quantos dias durariam minha estadia. E hoje, não faz tanto sentido voltar correndo. Ou faz. Ou faz, porque sei e sinto que aqui não é a minha casa. Na verdade ainda não tenho uma. E andar sem referência é o que tenho feito durante anos. Talvez por isso eu deposite tanto nas pessoas, afinal, não é fácil andar tentando sempre me adaptar e procurar refúgio para os momentos mais complicados. Tudo em cordas bambas quando estou sozinha. E cá estou de novo. Tentando me preparar pra dizer adeus a quem me deu certo refúgio, pra dizer "oi" a quem me espera com saudade no peito. Me preparo para não parar, não olhar pra trás, ainda que seja difícil. Pra enxergar a minha vida com seu tamanho real. Porque sei que é muito maior do que penso. Eu sou muito maior do que me vejo. Vejo onde estou. Vejo o que passei. Sinto o que cresci. Ainda que não com tanta exatidão. "Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior".
Eu falo como se fosse a primeira vez. Sinto medo como se tivesse ainda quinze anos. E já que falar tudo que eu queria não tá adiantando muito, não vai mudar... eu peço que faça qualquer coisa, pra eu não ver mais beleza em qualquer lugar ou coisa que tenha você. Grata.
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