Noventa e nove dias. Como eu queria que o dia de hoje chegasse. Quantas vezes eu não entrei em desespero, sem querer contar exatamente quantos dias durariam minha estadia. E hoje, não faz tanto sentido voltar correndo. Ou faz. Ou faz, porque sei e sinto que aqui não é a minha casa. Na verdade ainda não tenho uma. E andar sem referência é o que tenho feito durante anos. Talvez por isso eu deposite tanto nas pessoas, afinal, não é fácil andar tentando sempre me adaptar e procurar refúgio para os momentos mais complicados. Tudo em cordas bambas quando estou sozinha. E cá estou de novo. Tentando me preparar pra dizer adeus a quem me deu certo refúgio, pra dizer "oi" a quem me espera com saudade no peito. Me preparo para não parar, não olhar pra trás, ainda que seja difícil. Pra enxergar a minha vida com seu tamanho real. Porque sei que é muito maior do que penso. Eu sou muito maior do que me vejo. Vejo onde estou. Vejo o que passei. Sinto o que cresci. Ainda que não com tanta exatidão. "Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior".

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