É quase como segurar uma corda tentando alcançar o topo da pedra que está bem ali, mas o peso do seu corpo, da sua vida e do que tem que ser feito resulta no óbvio: não dá pra voltar mais. Tem dias que acordo tranquila, pensando em detalhes estúpidos como as molduras que devo comprar pra colocar uma das gravuras que fiz e outras fotografias. Criei gosto pelo supérfluo quando aqui cheguei, me lembro bem. Meu corpo me ensinou a pedir por comida quando não haviam abraços, me lembro de comprar sapatos quando me decepcionava outra vez. Mas foram perfeitos os momentos em que eu simplesmente não precisava de mais nada além dos momentos com meus amigos ou das conversas com minha família. Infelizmente, não sou perfeita, e sei que voltarei a pensar em fatos estúpidos para entender de vez que estou indo embora. E que as chances de voltar pra cá, são poucas. E pensar que, mesmo que eu voltasse, os momentos mudam, as pessoas se mudam e todos os meus amores estarão espalhados pelo mundo, literalmente. Pensar em molduras, no meu futuro novo quarto e na nova rotina também me embrulha o estômago, e eu nunca imaginei que fosse sentir tanto.
Essa pequena cidade me deixou mal acostumada. A moça da papelaria me conhece, assim como a do café, e todos do refeitório me chamam pelo nome, e me perguntam sobre o Brasil. As pessoas elogiam diariamente o que eu tiver de diferente na roupa ou no cabelo. Meus colegas estão sempre prontos pra me desejarem boa sorte seja pro que for. Todos, de todos os lugares, bebem no mesmo bar às terças e sextas, pegam os casacos errados na saída mas ninguém fica sem. Todos vão comer pizza depois do bar e todos se veem no outro dia pelos corredores. Na minha sala há um garoto que usa saias quando tem vontade. No mesmo prédio tem uma garota que usa peruca quando quer. Ninguém se espanta se estou de pijama no restaurante. Ninguém se incomoda, mas todos se importam se estou me sentindo confortável. Não é permitido acreditar que se é melhor que alguém, não é permitido não falar de racismo, de sexo, de preconceito, de igualdade ou equidade. Eu vou sentir falta de exatamente tudo. E espero poder ter de novo, um tempo tão inspirador quanto foi New Paltz. E claro, meus amigos.
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