Era minha última semana ali. O almoço de despedida que planejamos foi lindo, mas depois disso o sono bateu e mesmo com tanto a fazer nós duas dormimos. Acordei e já estava escuro, na verdade devia ser cinco horas, mas com o inverno presente a noite chegava rápido. Com a sombra do jardim lá fora, eu via nossas silhuetas na cama. Tentando não chorar, comecei a fazer um cachorrinho com a forma da minha mão usando a sombras e olhando pro teto. Era a coisa mais ridícula a fazer mas não havia escolha. Quando ela acordou, nós rimos juntas até o silêncio chegar, e desse momento pra frente, não tive escolhas: caí aos prantos, e sem falar nada, ela me abraçou e apertou minha mão, até eu deixar sair tudo. De fato congelei aquela cena, e as sombras das listras da cortina no seu rosto. Mas nada será como esse dia.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
Comentários