Escrevo tão pouco ultimamente que até minha gramática piorou. Minha dicção também. Ando buscando palavras no Google frequentemente, com medo de errar na ortografia. É bem absurdo. E aí começo a tentar analisar a fundo os motivos reais de tanta mudança. Ando cada dia mais calada. Minha vida é de fato, outra. Mas não acho saudável o caminho que sigo, então vez ou outra me bate a vontade de escrever mais uma vez.
Para entender melhor, minhas inseguranças profissionais cresceram absurdamente nos últimos anos. Nem parece que produzi tanto. E quanto mais produzo, pior fico. Além disso, sinto falta de ter mais amigos por perto. Existem pessoas que se afastaram de mim, e eu sinceramente não sei dizer de fato os motivos.
Há cinco anos atrás, eu terminava um namoro. O pior que já tive. O mais abusivo de todos. Infelizmente, não consigo sentir nada bom quando me lembro. Fui agredida de todas as maneiras, fui ao fundo do poço com minha auto estima e voltei à vida com ajuda de amigos e família. Perdoei várias mancadas, voltei atrás, e sofri muito, muito. Mas quando consegui acabar com aquilo, foi de fato um dos momentos mais felizes da minha vida. Um alívio gigante. Tão grande, que não percebi que algumas pessoas mudaram comigo, a fundo. Amigas próximas, pessoas pra quem eu contava segredos. Percebi que tinha algo errado, mas não quis me preocupar. - "Quem é amigo, fica de verdade." - Ouvi muito isso. E deixei pra lá.
Resolvi emendar várias histórias depois dessa. Mais um namoro, bem melhor que o anterior, mas ainda assim, a auto estima tinha que ficar ali, perto do chão. Uma insegurança mesquinha, que é de fato o que segura o ego de várias pessoas. Nunca me arrependi de ser honesta com as pessoas. Mas corto sempre pela raiz quando me machucam. E por isso, mais uma vez, eu me afastei de todos, exatamente todos que tinham algum contato com esse passado. Mais esse passado.
A sensação que tenho é que nem metade de todas essas pessoas sabem o que passei. Não sabem quem sou. Não me deram dez minutos de conversa tranquila, onde eu possa ser ouvida. Eu talvez guarde rancores, sim. E quem não guardaria? Mas o que faço desde a primeira decepção é me proteger. Porque a mentira é muito fácil de ser contada, ninguém te cobra provas. As histórias sobre a dor do amor atraem milhares, mas pouco questionam quem saiu daquele caso aliviado e mais leve.
Hoje, eu quero fazer tudo devagar. Viver bem devagarinho. Eu desconfio a cada passo dado. Eu não me abro para amigos. Ainda é difícil confiar até mesmo nas pessoas que amo. Eu mantenho o amor que sinto, mas preciso ficar sozinha sempre. Eu evito discussões, eu falo menos. Não escrevo muito também. Ás vezes, vejo tudo tão errado que não consigo reagir. Eu fujo desse passado, mas ele se faz presente todas as vezes que me pergunto o motivo de alguém não me cumprimentar direito na rua, ou quando me sinto culpada por não ter esquecido ainda todas essas histórias (mesmo tendo tanta violência).
E tudo que eu sempre quis foi que eu me recuperasse melhor de todas essas feridas. Eu não quero passar por cima de tudo pra simplesmente rever as pessoas que costumavam ser amigas. Eu só queria que tudo se esclarecesse da melhor maneira. Que, de alguma forma, entendessem que as minhas escolhas não foram descabidas e que nem todo mundo é tão incrível e confiável como eles pensam.
Eu não consigo viver uma farsa, mas também não dá pra parar de viver.
Então, enquanto eu não me lavar de todo esse desconforto, eu preciso listar em algum lugar, que eu não sou culpada, que as pessoas na verdade não me conhecem, que não é preciso fugir dos lugares e das pessoas.
Um dia eu chego lá.
Um dia eu chego lá.
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