Vê? Minha cabeça aberta, na sua frente, entupida de merda. Olha bem, a que ponto cheguei. Vê, esse corpo estranho e nada uniforme, e as palavras que quase nunca saem nítidas. Cabelo por toda parte, e somente perguntas, sem muitas respostas ao alcançe. Antes, eu dificultava e deixava de ser clara por modismo. Gostava de ser questionada e de responder. Mas daí me viciei e hoje, simplesmente não consigo ser clara com muitas coisas. Muito menos comigo mesma. Vê? O que fui e o que sou hoje. Me sinto plantada, quase enterrada no chão, debaixo dele, não sei. Queria ter me arriscado um pouco mais. Podia talvez, ter gritado antes, ter histórias a contar. Podia ter me arriscado a sofrer mesmo, de cara ao vento, nua, ou totalmente vestida de menina má. Você tinha toda razão. Daqui a uns anos, vou dizer que... bem, eu nunca fiz nada demais.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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